Funcionários dos Correios ameaçam greve após fim do ‘vale-peru’
A relação entre os funcionários dos Correios e a direção da estatal chegou a um novo ponto de tensão após a última tentativa de negociação não resultar em avanços.
BRASIL
12/13/20254 min read


A relação entre os funcionários dos Correios e a direção da estatal chegou a um novo ponto de tensão após a última tentativa de negociação não resultar em avanços.
Representantes da categoria afirmam que a empresa se recusou a discutir um reajuste compatível com a inflação e também descartou o pagamento do benefício de fim de ano, conhecido como “vale-peru”, tradicionalmente concedido aos cerca de 80 mil empregados da companhia.
O valor, de R$ 2.500 por trabalhador, consumiu R$ 200 milhões em 2024 — e, segundo a gestão atual, não deverá ser repetido neste ano devido à crise financeira sem precedentes na instituição.
Diante da estagnação das conversas, o clima interno ficou ainda mais carregado. Os Correios vivem o que sindicalistas e especialistas classificam como sua maior crise operacional e econômica.
O balanço mais recente aponta um déficit de R$ 6,1 bilhões acumulado até setembro, cenário que levou a direção a buscar um empréstimo de R$ 20 bilhões, com garantia do Tesouro Nacional, para viabilizar o plano de reestruturação em andamento.
Mesmo com esse contexto adverso, os trabalhadores afirmam que não podem servir de “amortecedores” para as dificuldades da estatal. Para eles, a atual administração tenta impor um pacote de cortes que impacta diretamente os funcionários, sem apresentar alternativas para preservar direitos já consolidados.
O sinal definitivo da insatisfação surgiu na reunião realizada nesta quinta-feira (11) no TST (Tribunal Superior do Trabalho), quando a empresa propôs apenas estender o ACT (Acordo Coletivo de Trabalho) — programado para expirar na segunda-feira (15) — até 28 de fevereiro de 2026, sem contemplar as demandas mais sensíveis da categoria, como a revisão salarial pelo índice inflacionário e atualização do vale-refeição.
A postura foi recebida como uma negativa explícita de diálogo pelos sindicatos. Por esse motivo, uma assembleia foi convocada para terça-feira (16), oportunidade em que os trabalhadores poderão votar pela deflagração de uma greve nacional.
A possibilidade de paralisação não é descartada nem mesmo pelos grupos que tradicionalmente defendem maior cautela nesse tipo de decisão.
Entre os mais críticos ao atual comando está Marcos Sant’aguida, presidente do Sintec-RJ (Sindicato dos Trabalhadores dos Correios do Rio de Janeiro).
Em declaração ao Poder360, ele reforçou que a categoria não aceitará assumir o ônus da crise decorrente de equívocos da alta administração.
“Vamos nos reunir com o nosso jurídico, diretoria e representantes sindicais para saber da posição e dos cenários para nos posicionarmos na assembleia, mas, a princípio, é inconcebível nós termos que sofrer perdas por algo que é a culpa da crise econômica que reside nas administrações desastrosas que geriram os Correios”, afirmou.
Apesar de serem empregados públicos, os funcionários dos Correios trabalham sob as regras da CLT, diferentemente dos servidores estatutários da administração direta. Isso significa que seus benefícios e condições são definidos por acordos coletivos, o que torna o ACT um instrumento central nas negociações.
O acordo em vigor, assinado em setembro de 2024 com as federações representativas, previa vantagens como gratificações ampliadas nas férias e pagamento triplicado por horas trabalhadas em fins de semana e feriados.
Algumas cláusulas foram incluídas mesmo quando a empresa já enfrentava dificuldades, o que hoje serve de argumento para a direção afirmar que sua manutenção representa um risco à sustentabilidade financeira.
O ACT original tinha validade até julho deste ano, mas passou a ser renovado sucessivamente à medida que o impasse persistiu. Agora, a administração afirma que não pretende assiná-lo novamente. Embora o fim do acordo não elimine todos os benefícios de imediato, dá à estatal maior liberdade para redesenhar políticas internas e revisar gratificações consideradas excessivas para o atual cenário.
Uma das cláusulas mais contestadas pela direção é o chamado ponto por exceção, que garante pagamento de horas extras sempre que há extrapolação de jornada, mas não exige compensação quando o trabalhador deixa o serviço antes do horário.
Gestores alegam que essa regra prejudica a produtividade e dificulta o controle da rotina de trabalho, especialmente num momento em que a empresa luta para recuperar sua estabilidade financeira.
Com a assembleia se aproximando, cresce o risco de interrupção dos serviços, o que poderia gerar impacto direto em entregas de final de ano e no fluxo de encomendas.
Caso a greve seja aprovada, o movimento deve se tornar um dos mais significativos da estatal nos últimos anos, num contexto marcado por disputas internas, reestruturação e descontentamento generalizado entre os empregados.
BENEFÍCIOS PREVISTOS NO ACORDO COLETIVO DOS CORREIOS
Gratificação de 70% sobre as férias;
Licença remunerada de até dois dias por mês para mulheres que comprovarem sintomas graves associados ao fluxo menstrual;
Ponto por exceção: o empregado registra apenas quando faz hora extra, podendo sair mais cedo (quando não há mais entregas, por exemplo) sem necessidade de compensação;
Hora extra tripla em dia de descanso semanal remunerado ou feriado, com pagamento de 200% do valor da hora ou concessão de dois dias de folga;
Vale-refeição no valor de R$ 50,93 por dia, pago inclusive nas férias e durante afastamento por saúde ou licença-maternidade e paternidade;
Auxílio para dependentes com deficiência, no valor de R$ 1.030,58, com possibilidade de reembolso acima desse limite mediante aprovação do serviço médico dos Correios;
Reembolso creche ou babá de até R$ 714,72 mensais, inclusive durante o período de licença-maternidade, sem restrição à contratação de familiares da funcionária ou do cônjuge;
Possibilidade de licença-saúde de até 90 dias enquanto o empregado recorre de decisão do INSS que o julgar apto a retornar ao trabalho;
Cinco dias de liberação do trabalho para empregados eleitos para conselhos dos Correios, da Postal Saúde (plano de saúde) e do Postalis (fundo de pensão) antes de cada reunião, sem desconto salarial;
Liberação sem desconto no salário para empregado dirigente de entidade que desenvolve projetos de habitação voltados aos trabalhadores dos Correios, permitindo atuação direta nos assuntos relacionados ao tema. (Foto: EBC; Fontes: Folha de SP; Poder360)
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